SÃO PAULO – O Ibovespa oscila entre os campos positivo e negativo nesta quarta-feira, numa sessão marcada por movimentos de ajuste e reações intensas em alguns papéis de empresas que divulgaram recentemente seus balanços trimestrais. Com a relativa estabilidade de hoje, o índice caminha para fechar o mês com desempenho amplamente positivo, em meio ao otimismo dos investidores em relação ao cenário político.
Perto de 13h45, o Ibovespa operava em queda de 0,46%, aos 86.482 pontos — na máxima, subiu aos 88.028 pontos (1,31%). Com o desempenho do momento, o índice vai acumulando ganho de 8,97% no mês; no ano, a alta chega a 13,2%.
A alta acumulada ao longo de outubro foi deflagrada pelo fortalecimento de Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas de intenção de voto ainda no primeiro turno das eleições. O rali teve continuidade no segundo turno, em meio ao favoritismo do militar, e prossegue nesta semana, após a confirmação de vitória do candidato do PSL no pleito.
A leve queda vista no momento está ligada a um movimento de ajuste de carteiras, com os investidores realizando parte dos ganhos acumulados em alguns papéis e optando por aumentar a exposição aos setores que não tiveram ganhos durante o rali eleitoral. Assim, as ações da Petrobras e dos bancos aparecem no campo negativo, enquanto Vale e exportadoras despontam entre as principais altas do dia.
Um analista ainda lembra que, no front político, a falta de grandes novidades abre espaço para a realização dos ganhos do dia anterior — assim, o Ibovespa vai operando na contramão dos mercados americanos, que apresentam desempenho positivo nesta quarta-feira.
“O pessoal ficou animado com a [reforma da] Previdência ser votada ainda neste ano, mas o Rodrigo Maia [presidente da Câmara] esfriou um pouco o mercado”, diz o analista. Bolsonaro chegou a sinalizar que seria favorável à aprovação da reforma ainda neste ano, mas o presidente da Câmara disse que falar quando a Previdência seria votada é uma “precipitação”.
Nesse cenário, Petrobras PN (-1,96%) e Petrobras ON (-1,93%) realizam parte dos ganhos acumulados ao longo do mês, assim como Itaú PN (-2,22%), Bradesco PN (-2,36%) e BB ON (-2,76%) — todos esses papéis ainda acumulam ganhos que variam de 10,7% a 43% somente neste mês.
Por outro lado, Suzano ON (4,81%), Vale ON (3,56%), Embraer ON (3,79%), units da Klabin (1,46%) e Fibria ON (1,36%) subiam em bloco, aproveitando-se do dólar mais forte e do tom menos cauteloso dos mercados externos. Nesse grupo de empresas mais ligadas ao mercado global, apenas Embraer acumula desempenho positivo no mês — a expectativa em relação à combinação da empresa com a Boeing fez com que os papéis conseguissem aproveitar parte do rali eleitoral.
A temporada de balanços corporativos é responsável por alguns desempenhos expressivos do índice nesta quarta-feira. No lado negativo, as units do Santander Brasil tinham queda de 5,48%.
Também no lado negativo, Ecorodovias ON (-3,56%) e Raia Drogasil ON (-3,31%) reagem negativamente aos números trimestrais das empresas — segundo o UBS, o lucro da Raia Drogasil no período ficou 8,7% abaixo do esperado. Na ponta positiva, Cielo ON (4,43%) aparece entre as maiores altas do índice.
Câmbio
A última sessão de outubro é marcada por um novo repique do dólar contra o real, captando um movimento global que desfavorece a classe de emergentes. No Brasil, a divisa americana volta a subir e opera acima dos R$ 3,70, também influenciada por fatores técnicos de fim de mês. O movimento de hoje, entretanto, é apenas marginal e pouco altera o desempenho mensal, de queda de 7% em outubro.
O pano de fundo no exterior é delineado por dados mais fracos que o esperado da economia chinesa, elevando a preocupação com os efeitos da guerra comercial do país com os Estados Unidos. Já os dados do mercado de trabalho americano bateram as expectativas e alimentam o receio com o aperto monetário por lá.
Essa combinação joga contra as moedas emergentes, que tem os piores desempenhos do dia entre as moedas globais. Numa lista de 33 papéis, o real só tem uma colocação melhor que lira turca, rand sul-africano, peso mexicano e peso chileno.
Pouco depois de 13h45, o dólar comercial subia 1,06%, a R$ 3,7310, depois de bater a máxima de R$ 3,7444 durante a manhã. O contrato futuro para dezembro, o mais líquido a partir de hoje, avançava 0,82%, a R$ 3,7380.
Para Alessandro Faganello, operador na Advanced Corretora, os sinais de desaceleração econômica da China acendem um sinal de alerta no mercado. “A economia ainda está em expansão, mas pode ser afetada pela guerra comercial”, diz o especialista. Divulgados ontem, Indicadores da indústria e serviços do país ficaram aquém das expectativas. “E tem o aperto monetário do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE). Lá fora o ambiente não é favorável para emergentes”, diz.
A instabilidade da moeda americana, com alguns picos de alta no começo da manhã, é atribuída também a fatores técnicos de fim de mês. Hoje, é formada a última taxa Ptax de outubro, que serve de referência para liquidação de derivativos cambiais. E num período marcado pela queda da cotação, essa é a última oportunidade para “comprados” (que ganham com a alta da moeda) de, pelo menos, limitar prejuízos, diz o operador de uma corretora paulista.
Em outubro, o dólar comercial acumula queda superior a 7%. Mantido esse desempenho até o fim do dia, será a baixa mensal mais acentuada desde junho de 2016, quando a moeda recuou 11%. Se agora o mercado foi impulsionado pelas apostas na derrota do PT – e vitória de Jair Bolsonaro, do PSL – para a Presidência da República, o movimento de dois anos atrás ocorria com a definição do cronograma parlamentar que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Juros
O dia é tranquilo hoje para os contratos de juros futuros, com os investidores de olho na estratégia de política monetária do Banco Central (BC) e no ritmo de negócios no exterior. Os DIs de curto prazo, com vencimento entre 2019 a 2021, operam com leve queda, e os demais contratos apresentam alta contida.
Sai hoje a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o juro básico, o que leva a ponta curta da curva a termo a tirar o resto do prêmio de risco. A expectativa do mercado é de manutenção do juro básico em 6,5% ao ano. As perspectivas para a inflação seguem sob controle mesmo depois da alta volatilidade do câmbio durante o período eleitoral e vão permitir a manutenção da Selic. É esperado, também, que o processo de aperto monetário tenha início no ano que vem e seja feito de maneira gradual.
Sem novidades no ambiente local, a tendência dos ativos no exterior prevalece no resto da curva, na opinião de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil. Segundo ele, dados econômicos da China decepcionaram e os números do mercado de trabalho americano vieram acima do esperado, trazendo preocupação com a alta de juros dos Estados Unidos.
“O movimento dos juros longos é a resultante desses dois vetores. O processo eleitoral trouxe mudança importante e hoje há perspectiva de um governo com agenda mais liberal e ortodoxa no campo econômico, com respaldo do voto popular. Isso traz perspectiva mais favorável”, explica. “O governo Temer estava fazendo essa mudança de direção na política econômica, mas não tinha a chancela do voto popular para dar força no Congresso. Agora tem governo de quatro anos, forte apoio popular, com agenda mais liberal e ortodoxa.”
No noticiário político, os pronunciamentos da equipe de Bolsonaro continuam sendo acompanhados de perto e as indicações de comprometimento com a situação fiscal do país agradam os investidores. Ontem, Paulo Guedes afirmou que a ideia é fazer duas reformas da Previdência, sendo uma já este ano e uma adicional depois que o próximo governo tomar posse.
Além disso, a ideia de vender parte das reservas cambiais, conforme antecipado na terça-feira pelo Valor, gerou discussões no mercado e Guedes se posicionou afirmando que a venda será feita apenas em um cenário de crise especulativa sobre o câmbio. A visão de especialistas é que a redução teria que acontecer apenas após a aprovação das reformas para resolver o problema fiscal do país.
Os detalhes das declarações recentes da equipe de Jair Bolsonaro não têm chamado atenção dos investidores, de acordo com Rostagno. Ele afirma que o mercado tem filtrado as informações e que a conclusão é que a equipe converge para um projeto de liberalização da economia e diminuição da burocracia.
O DI janeiro/2020 era negociado a 7,20% (7,19% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 tinha taxa de 8,15% (8,12% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 marcava 9,85% (9,78% no ajuste anterior).